Meu sorriso do ano - 2012
Paulo Capel Narvai
Sorrisos há de todos os tipos e o tempo não muda isso. O sorriso amarelo,
por exemplo, é muito frequente em anos de eleições, pois as urnas (e os
eleitores, por certo) costumam transformar em fumaça mandatos tidos como
certos. Em 2012 não foi diferente e, em outubro, sorrisos amarelos brotaram
das urnas em todos os quadrantes brasileiros. Vários sorrisos amarelos me
foram indicados pelos amigos e amigas que me ajudam a, em todos os anos,
eleger o ganhador do Prêmio Meu Sorriso do Ano. Mas não quero tripudiar
sobre derrotas eleitorais. São cruéis e os que foram em busca de mandatos
populares, merecem que respeitemos seus sorrisos amarelos. A propósito de
eleições, claro que, uma vez mais, amigos e amigas sugeriram que, em 2012, o
vencedor fosse o Lula.
Dentre os nomes mencionados para o Prêmio
deste ano, surgiram com força os de: 1) Barack Obama, que além de conquistar
a reeleição, lutou até as últimas horas de 2012 para convencer os
congressistas dos Estados Unidos de que seu projeto para evitar o abismo
fiscal deveria ser aprovado; 2) Fernando Haddad, pois desqualificado pelos
opositores como “um poste”, conquistou mais de 1 milhão de 700 mil votos em
7 de outubro, dia do primeiro turno das eleições paulistanas, e praticamente
dobrou esse número três semanas depois, quando obteve mais de 3 milhões e
350 mil votos, elegendo-se prefeito da maior cidade do País em 28 de
outubro. Naquela noite foi impossível saber quem sorria mais, ele ou a
esposa e filhos; 3) Joaquim Barbosa, porque, para muitos, é “o Pelé do
Planalto”, e segue firme. Depois de tudo, assumiu a Presidência do máximo
Tribunal brasileiro. Barbosa foi indicado por um expressivo número de amigos
e amigas. Ele passa a imagem de que “teve que superar muitos obstáculos para
chegar onde chegou, sendo um grande representante do cidadão brasileiro” e
de que “ainda há justiça neste país e alguém luta por ela”; 4) Tite, porque
soube dar a volta por cima. Depois do fiasco da eliminação da Copa
Libertadores da América em 2011, Tite conseguiu se manter firme no cargo de
técnico do Corinthians, manteve o time, se manteve no comando, e conquistou
em 2012 o cobiçadíssimo título de campeão invicto da Libertadores da
América. Em dezembro, no Japão, levou o clube paulistano ao bicampeonato
mundial de futebol. Foi o que bastou para eu receber uma enxurrada de votos
a favor de Tite para o Prêmio Meu Sorriso do Ano 2012. A tônica dos
comentários pode ser resumida nos seguintes: “Quem resiste e não se abate
vira campeão”, “é o maior promotor de sorrisos do mundo!”; 5) Marcos, o
goleito do Palmeiras, que fez em 2012 seu jogo de despedida da carreira,
também foi lembrado por amigos e amigas para o Prêmio deste ano; 6) Mariano
Rajoy, o “presidente del gobierno”, da Espanha, entrou na lista na categoria
“Sorriso Tétrico”, pois seu primeiro ato ao tomar posse no Executivo
espanhol foi acabar com o direito universal à saúde naquele país,
colocando-se de joelhos para os bancos que mandam no Euro, ou seja, na União
Europeia. Depois veio o resto, como os bancos espanhóis desalojarem, apenas
em dezembro, em média 500 famílias por dia, por atrasos nos pagamentos das
prestações da casa própria. Genial esse “señor” Rajoy, não? Cada vez que o
sujeito sorri eu sinto um frio na espinha...
Mas, amigos, quem ficou com o Prêmio Meu
Sorriso do Ano 2012 foi o Oscar Niemeyer. Na consulta aos meus amigos e
amigas, o arquiteto das curvas recebeu dois de cada três votos. Muitos
mencionaram a forma serena e generosa com que sorria e houve quem chamasse a
atenção para o fato de que “parece que ele sorria também com os olhos”. E eu
me dei conta de que é verdade isso: quando sorrimos, nossos olhos sorriem.
Leitor, leitora, repare nisso. Para mim, foi mais uma lição proporcionada
por Niemeyer. Quando o arquiteto morreu, foram inúmeros os comentários e
reproduções de suas falas nas redes sociais. Mas, dentre os meus amigos e
amigas que o indicaram para ganhar o Prêmio em 2012, houve destaque para o
fato de que aliava “competência e humildade”, duas qualidades que nem sempre
andam juntas, e que “deslumbramento, encantamento, surpresa, liberdade,
alegria, entram pelos olhos com a visão das curvas amplas e geniais de suas
obras” e também “porque além da sua arte que será eterna, não titubeava nas
questões essenciais e se assumia um radical”.
Além disso tudo, um detalhe importante (para
mim, pois isso não altera em absolutamente nada a brilhante e
internacionalmente reconhecida biografia desse carioca genial): desde que,
com o estímulo de amigos, criei o Prêmio Meu Sorriso do Ano, ninguém recebeu
o prêmio duas vezes. Mas isso está acontecendo neste ano, pois ao fazer 100
anos o velho Oscar havia galardoado. Então, fica assim: Oscar Niemeyer,
falecido em 2012, leva o Prêmio, numa espécie de Bissorriso do Ano.
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Paulo Capel Narvai
Cirurgião-Dentista Sanitarista. Especialista, Mestre, Doutor e Livre
Docente em Saúde Pública. Professor Titular de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo (USP). Autor de ‘Odontologia e saúde Bucal Coletiva’
(Ed.Santos) e de ‘Saúde Bucal no Brasil: Muito Além do Céu da Boca’ (Ed.Fiocruz).