Ano XXI nº 244 -

Edição 244 - 08/02/2018

   

 

 

Quem são as pessoas jogadas nas ruas?

Izilda Alves*

 

Sob a garoa, corpos estendidos nas ruas, nas praças, nos becos e embaixo de viadutos. Escondidos sob cobertores sujos, com cabeças até sob caixas ou mais impressionante ainda cobertos por plásticos, que um dia foram cortinas, capas de chuva ou sacos de lixo, estão pessoas vivas . Homens, mulheres, adolescentes que trocaram seus pais, suas famílias pelas cracolândias de São Paulo. Triste e preocupante retrato de uma cidade que ignora leis antidrogas em vigor no Brasil – 11.343/2006 e Estatuto da Criança e do Adolescente – e lei que autoriza famílias tratarem e internarem dependentes de drogas em hospitais públicos, a 10.216/2001.

São pessoas. Estão jogadas nas ruas. Só não vê quem não quer. E já são tantos que ao invés de solidariedade causam medo , inquietação. Quem será o próximo nessa imensidão de miséria, que torna mais doente e violenta a cidade, que um dia foi a mais rica do País?

Ela chega de mansinho, assim como quem não quer nada. Num dia, você acorda triste, desanimado. No outro, bate uma sensação de vazio e uma vontade incontrolável de chorar, sem qualquer motivo aparente. A depressão é assim, um mal silencioso e ainda mal compreendido – até mesmo entre os próprios pacientes.

Considerada um transtorno mental afetivo, ou uma doença psiquiátrica, a depressão é caracterizada pela tristeza constante e outros sintomas negativos que incapacitam o indivíduo para as atividades corriqueiras, como trabalhar, estudar, cuidar da família e até passear.

De acordo com OMS (Organização Mundial de Saúde), até 2020 a depressão será a principal doença mais incapacitante em todo o mundo. Isso significa que quem sofre de depressão tem a sua rotina virada do avesso. Ela deixa de produzir e tem a sua vida pessoal bastante prejudicada.

Atualmente, mais de 120 milhões de pessoas sofrem com a depressão no mundo – estima-se que só no Brasil, são 17 milhões. E cerca de 850 mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da doença.

Descrita pela primeira vez no início do século 20, a depressão ainda hoje é confundida com tristeza, sentimento comum a todas as pessoas em algum momento da vida. Brigar com o namorado, repetir o ano escolar e perder o emprego são motivos para deixar alguém triste, cabisbaixo. Isso não significa, porém, que o sujeito está com depressão. Em alguns dias, ele, certamente, vai estar melhor.

O desconhecimento real do funcionamento desse transtorno afetivo é o principal responsável por um dos maiores problemas para quem sofre com a depressão: o preconceito. Para Marcos Pacheco Ferraz, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ele ainda existe e prejudica muito o paciente.

– Principalmente no ambiente de trabalho, onde há competições e cobranças por bom desempenho, é comum as pessoas nem comentarem sobre a enfermidade. Nesses casos, o melhor é tirar férias ou licença médica.

E não é só isso. A ignorância em torno da doença faz com que familiares e amigos, na tentativa de ajudar, piorem ainda mais a condição do depressivo.

Frases como “tenha um pouco de força de vontade”, “vamos passear no shopping que melhora”, “você tem uma vida tão boa, tá com depressão por que?” e “se ocupe com outras coisas que você não terá tempo de pensar em bobagens”, funcionam como uma bomba na cabeça de quem já se esforça, diariamente, para conseguir sair da cama.

– Isso mostra que as pessoas não conhecem o transtorno. Achar que é frescura ainda é comum. Elas não imaginam que o paciente não consegue reagir. Não depende de força de vontade.

 

*Izilda Alves é jornalista. Autora do livro Guerra pela Vida  - A Campanha da Jovem Pan contra as drogas.

 

 

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