E dição
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- 08/02/2018
Quem são as pessoas jogadas nas ruas?
Izilda Alves*
Sob a garoa, corpos estendidos nas ruas, nas praças, nos becos e
embaixo de viadutos. Escondidos sob cobertores sujos, com cabeças
até sob caixas ou mais impressionante ainda cobertos por plásticos,
que um dia foram cortinas, capas de chuva ou sacos de lixo, estão
pessoas vivas . Homens, mulheres, adolescentes que trocaram seus
pais, suas famílias pelas cracolândias de São Paulo. Triste e
preocupante retrato de uma cidade que ignora leis antidrogas em
vigor no Brasil – 11.343/2006 e Estatuto da Criança e do Adolescente
– e lei que autoriza famílias tratarem e internarem dependentes de
drogas em hospitais públicos, a 10.216/2001.
São pessoas. Estão jogadas nas ruas. Só não vê quem não quer. E já
são tantos que ao invés de solidariedade causam medo , inquietação.
Quem será o próximo nessa imensidão de miséria, que torna mais
doente e violenta a cidade, que um dia foi a mais rica do País?
Ela chega de mansinho, assim como quem não quer nada. Num dia, você
acorda triste, desanimado. No outro, bate uma sensação de vazio e
uma vontade incontrolável de chorar, sem qualquer motivo aparente. A
depressão é assim, um mal silencioso e ainda mal compreendido – até
mesmo entre os próprios pacientes.
Considerada um transtorno mental afetivo, ou uma doença
psiquiátrica, a depressão é caracterizada pela tristeza constante e
outros sintomas negativos que incapacitam o indivíduo para as
atividades corriqueiras, como trabalhar, estudar, cuidar da família
e até passear.
De acordo com OMS (Organização Mundial de Saúde), até 2020 a
depressão será a principal doença mais incapacitante em todo o
mundo. Isso significa que quem sofre de depressão tem a sua rotina
virada do avesso. Ela deixa de produzir e tem a sua vida pessoal
bastante prejudicada.
Atualmente, mais de 120 milhões de pessoas sofrem com a depressão no
mundo – estima-se que só no Brasil, são 17 milhões. E cerca de 850
mil pessoas morrem, por ano, em decorrência da doença.
Descrita pela primeira vez no início do século 20, a depressão ainda
hoje é confundida com tristeza, sentimento comum a todas as pessoas
em algum momento da vida. Brigar com o namorado, repetir o ano
escolar e perder o emprego são motivos para deixar alguém triste,
cabisbaixo. Isso não significa, porém, que o sujeito está com
depressão. Em alguns dias, ele, certamente, vai estar melhor.
O desconhecimento real do funcionamento desse transtorno afetivo é o
principal responsável por um dos maiores problemas para quem sofre
com a depressão: o preconceito. Para Marcos Pacheco Ferraz, da
Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), ele ainda existe e
prejudica muito o paciente.
– Principalmente no ambiente de trabalho, onde há competições e
cobranças por bom desempenho, é comum as pessoas nem comentarem
sobre a enfermidade. Nesses casos, o melhor é tirar férias ou
licença médica.
E não é só isso. A ignorância em torno da doença faz com que
familiares e amigos, na tentativa de ajudar, piorem ainda mais a
condição do depressivo.
Frases como “tenha um pouco de força de vontade”, “vamos passear no
shopping que melhora”, “você tem uma vida tão boa, tá com depressão
por que?” e “se ocupe com outras coisas que você não terá tempo de
pensar em bobagens”, funcionam como uma bomba na cabeça de quem já
se esforça, diariamente, para conseguir sair da cama.
– Isso mostra que as pessoas não conhecem o transtorno. Achar que é
frescura ainda é comum. Elas não imaginam que o paciente não
consegue reagir. Não depende de força de vontade.
*Izilda
Alves é jornalista. Autora do livro Guerra pela Vida - A
Campanha da Jovem Pan contra as drogas. |
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