artigos.gif (4386 bytes) logjornal.gif (4234 bytes)
Ano VI - Nº 92 - Novembro de 2004
 

Gosto é gosto,
mas técnica não se discute

Armando Stelluto Jr.*
 

 


O uso inapropriado da expressão “gosto é gosto, não se discute” tem sido quase uma palavra mágica na comunicação. Virou a desculpa da vez para os criativos de plantão. No jornalismo, uma das especialidades da Comunicação Social ensinada na universidade, não é diferente. Existe de tudo. Uma verdadeira poluição de não-profissionais da área a proliferar num meio específico. O jornalismo tem suas técnicas, métodos e critérios desenvolvidos para esse fim. Mais que isso: deve e precisa ser pautado pela ética. Sem ela não há salvação; há confusão, desrespeito, indisciplina.

A um jornalista exige-se fundamentalmente apreço pela verdade e desprezo pelo estrelismo, vaidade em excesso, exibicionismo. O jornalista tem como função primordial servir à sociedade com seriedade. De seu trabalho depende em parte a formação de grande parte da comunidade, depende a instrução adequada para o livre exercício da cidadania por todos.

Esse é o ponto. Ao jornalista cabe trabalhar pelo livre fluxo da informação de excelência, de qualidade pela informação construtiva, de utilidade pública, que abra caminhos e mentes indistintamente. Seu papel maior é servir à sociedade, na medida em que atua como um elo responsável de comunicação coletiva entre os povos.

Pois bem. Esse conjunto de qualidades que se espera de um jornalista bem formado (sob todos os aspectos) não se resume em apenas dominar a gramática para escrever direito. Escrever direito não significa escrever bem. O jornalista sério trabalha (ou escreve...) com ética, seja na mídia impressa ou eletrônica.

“Ah, mas eu escrevo com ética”, diz lá um curioso que se mete a escrever textos para o jornalzinho do bairro ou para o informativo da empresa em que trabalha. Não, não escreve com ética não. Porque não está preparado para isso. Nem os artigos especializados – permitidos em lei – são bem escritos em sua maioria, porque não raras vezes descambam para polêmicas e intrigas que somam bobagens e mais bobagens entre grupos de interesse comum. Isso sem nenhuma contribuição saudável para o leitor em geral.

O jornalista profissional trabalha com o foco informativo aberto. O amador/curioso atua com foco fechado, não tem abrangência, pensa curto e serve a pequenos e fechados círculos, na maioria a serviço de uma política de valor duvidoso.

 “Eu gosto que o jornal da minha empresa seja feito assim. Gosto do vermelho, destesto o verde. Aqueles espaços em branco são antieconômicos. As letrinhas em preto também não me agradam”, diria o administrador de empresas do alto de seu posto de dirigente. Não é por aí, aconselharia um jornalista experiente. É preciso esquecer que as preferências de gosto possam se sobrepor à técnica. Esta tem definição, embasamento próprio para seus fins. A outra? Bem, a outra é de gosto, um gostinho, uma vontade. Coisas de curioso, que, obviamente, desconhece ética, técnica. E isso não se discute.


*Armando Stelluto Jr.  é jornalista e diretor da Publicata Comunicação

PRIMEIRA PÁGINA

EDIÇÕES ANTERIORES

ARQUIVO DE LEGISLAÇÃO

FALE CONOSCO