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Ano V - Nº 78 - Dezembro de 2003 - 1ª Quinzena

Meu Sorriso do Ano — 2003

Paulo Capel Narvai*


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Sim, leitor, você acertou. Claro que o Prêmio Meu Sorriso do Ano de 2003 vai para... quer dizer, foi tomado por — melhor seria dizer ‘ocupado’... — Míster Dáblio Bush... Aquele sorrisinho amarelo-macabro, com cheiro de petróleo, percorreu o mundo, via TV, justo na Semana Santa cristã.

As imagens contrastavam: de um lado, Mr. Bush Jr com ar triunfal, imperial, tietado por teenagers e seniors de todos os tipos; de outro, cadáveres, corpos rotos, restos humanos, e ruínas — muitas ruínas. Tesouros arqueológicos reduzidos a pó enquanto as corporations planejavam a "reconstrução". No rescaldo, nada das tais "armas de destruição em massa" que justificaram a ação ensandecida e serviram de pretexto para a tentativa de desmoralizar a ONU.

Claro que o sorriso tirânico de Sadam Hussein, insensível ao que viria, e apostando num blefe texano, também esteve no páreo da disputa do Meu Sorriso do Ano. Mas não foi um concorrente à altura — e, ademais, até hoje não se sabe onde está.

As mais de 30 milhões de vozes que foram às ruas de todo o mundo pedir paz em 15 de fevereiro não foram suficientes para barrar Mr. Dáblio Bush.

O leitor me perdoe. Ele leva o prêmio, por horrendo merecimento. Seu sorrisinho amarelo-macabro é, lamento, o Meu Sorriso do Ano-2003. Sacramentou a conquista quando, em 4 de novembro, todo néscio, anunciou ao mundo que seu país "não fugiria do Iraque" (sic)... Mas Mr. Dáblio Jr não terá, de mim, nada além do reconhecimento do seu funesto, sinistro merecimento ao Prêmio. Não desenvolverei o tema. Neste mês de Natal, em respeito à memória dos que tiveram — e vêm tendo — suas vidas interrompidas pelo desatino dos que, sendo políticos não acreditam em soluções políticas e recorrem até as últimas conseqüências à força militar para resolver impasses políticos, paro por aqui.

Silêncio, silêncio, silêncio...

[ainda ouço os gritos vindos de Basra, Nassíria, Bagdá... Fazem-me recordar o fogo e a dor de Nova Iorque; da Palestina; de Israel; de Berlim; de Stalingrado; de Hiroshima... Tanta dor. Até quando? Para os que não queremos atirar, ranger os dentes e/ou rezar não pode ser só o que nos resta].


*Paulo Capel Narvai é cirurgião-dentista sanitarista. Mestre e doutor em Saúde Pública. Professor associado da Universidade de São Paulo. Autor de Odontologia e Saúde Bucal Coletiva (Ed.Santos, 2002).

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