As
pessoas que não me vêem há muito tempo, estranham quando me encontram
com cabelos curtos. Pois é, cortei os cabelos, sim. O chato dessa
história não é a expressão de desagrado o aprovação de quem revela o
espanto. É a pergunta quase automática que segue o olhar espantado: “o
que você fez com o seu rabinho”?
Por
favor, peço a compreensão dos leitores. Eu usava cabelo comprido
amarrado em rabo de cavalo. É a respeito desse rabo que as pessoas se
referem. Sei que fica estranho tratar de assunto tão banal em uma
crônica, mas é que estou ficando sem jeito com essa coisa de ficarem
lamentando a perda do meu rabo.
Amigos, os tempos mudaram. Os dias estavam mais quentes, os xampus
mais caros e eu queria mudar o visual. Foi por isso que cortei os
cabelos. Hora dessas retomo a velha imagem de rebelde sem causa.
Continuo sem causas, meio rebelde, mas com cabelos curtos.
Aos
que insistem em perguntar sobre meu rabo, digo que me candidatei a um
cargo de gerente de supermercado. É brincadeira, é claro, mas alguns
acreditam e fazem aquela cara pouco disfarçada de “poxa, a que ponto
chegamos!”. Outros ficam em dúvida. Mas olham desconfiados, como se eu
tivesse jeito para a coisa (de gerente, por favor, não confundam).
O
fato é que estou de cabelos curtos. Mas não é preciso preocupação.
Cortei os cabelos e não o cérebro. Esse continua no mesmo lugar, com
as mesmas qualidades e limitações de sempre. Desisti de tentar ativar
o percentual adormecido da massa encefálica (que é enorme – o
percentual, não a massa). Deixe que durma. Vai que eu resolva começar
a ter idéias diferentes...
Porque essa coisa de atiçar as forças da natureza é um perigo. Já
imaginou se adquiro repentinamente poderes telepáticos? Ficaria
preguiçoso e só publicaria crônicas pelas ondas cerebrais. Ou perderia
meu espírito esportivo e ficaria interferindo nas conversas chatas das
pessoas à minha volta. Poderia até provocar revelações bombásticas em
almoços sociais (por parte dos outros, é claro).
Não
posso deixar de imaginar aquela mulherona no carro ao lado, parada no
farol ao meu lado, ouvindo de dentro de seu cérebro: “sorria para o
gordinho sem rabo, sorria para o gordinho sem rabo”. E ela sorriria,
encantada, menos pelo charme do gordinho, mais pela estrambólica
mensagem do “sem rabo”. E seguiria seu curso sorrindo e pensando
coisas do tipo: “coitado, sem rabo!”.
Não, não, chega. Não me levem a perder o rumo da prosa. Eu apenas
cortei os cabelos. Ou melhor, mandei cortar meus cabelos. A artista
foi a Cida, que deve ter sentido dor no coração de ter cortado meu
rabo. Porque cabeleireira boa do ramo, já estava imaginando banhos e
tratamentos para que o cabelão ganhasse mais viço e cor. Mas teve que
cortar e ponto final.
Portanto, gostaria de esclarecer de uma vez por todas. Por conta de
razões absolutamente pessoais, pedi à Cida que cortasse meus cabelos.
Fiquei mais leve, mais fresquinho (no sentido climatológico da
palavra). E até que acostumei bem. Tanto que acabo me espantando
quando alguém me encontra na rua e pergunta: “o que você fez com seu
rabinho?”. Justo agora que preciso ir ao proctologista...
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