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AnoV - Nº 72 - Setembro de 2003

Aos CDs sem player

Maurício Cintrão

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Olá, amigos dentistas! Desculpem mas, até conhecer o Jornal do Site Odonto, vocês eram dentistas  para mim. CDs eram aquelas bolachinhas prateadas que tocam música só do Lado A. Preciso me  acostumar ao novo braquigrama (ahah, essa palavra eu também não conhecia). Porque é complicado dominar todo o universo de abreviaturas e siglas usadas no Brasil. Ainda mais nestes tempos de Internet, quando "enxugar" expressões virou necessidade de comunicação.

Sofro com as siglas e abreviaturas desde os tempos do Long Play, o velho e bom LP (que, aliás, tocava o Lado B). E se você riu com a história do Lado B, significa que tem DNA (data de nascimento antiga). Deve ser do tempo em que o aluno CDF ia bem em OSPB, conhecia o AI-5, mas fedia a CC (por falta de desodorante, não de consciência política). As provas de vestibular tinham respostas NDA. Nossas TVs eram PB, as vitrolas Hi-Fi, as estradas tinham caminhões FeNeMê e, se fizéssemos bagunça, chamavam a RP.

Imaginem a dificuldade que tive para me acostumar à Internet, aos bate-papos e à enxurrada de e-mails que recebemos todos os dias. Com eles vieram os textos de mensagens otimistas, as propagandas de sites pornográficos, a legião de literatos de escritório e um macarrão de letrinhas de abreviações. Você virou vc, abraço ab, risada rs e uma coisa muito engraçada ganhou um sonoro rdr (rolando de rir). É a pressa em escrever aliada à velocidade da rede mundial de computadores.

Mas eu ainda me acostumo à idéia de chamá-los por CDs. Aliás, daqui para a frente só vou chamar a Doutora Eunice de "minha CD". Como sou gozador, ela vai pensar que estou falando da bolachinha de música, mas nos entenderemos com o tempo. Até porque sou o CP dela (Cliente Preferencial). Não pago, furo no horário, escovo mal os dentes, mas conto as melhores piadas. Com certeza, ela vai ficar toda orgulhosa. Até porque agora vou escrever para os colegas dela.

Eventualmente, pode ser que me esqueça e volte a chamá-los por dentistas. Por favor, dêem um desconto. Afinal, pertenço a uma geração que fazia tratamento dentário sem anestesia e que era ameaçada pelos pais: "se não
comer direito, vou te levar ao dentista!". Se os chamassem de CDs naquela época, talvez a ameaça não tivesse tanto impacto. E eu não fosse gordinho e neurótico. Até hoje, ao ouvir aquele barulhinho do alta rotação, confesso até o que não fiz.

Por isso, sejam complacentes, por favor.


*Maurício Cintrão - jornalista e cronista
E-mail:
cintrao@uol.com.br

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