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AnoVI - Nº 92 - Novembro de 2004

 

Posição Ingrata
Maurício Cintrão    

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Eu não conseguiria trabalhar na posição em que vocês trabalham, nem da forma como precisam trabalhar. Imagino que seria terrível ficar debruçado sobre uma pessoa sem poder apoiar os braços. No meu caso haveria dois problemas: um seria onde e como apoiar os braços; o outro,  sobre onde colocar a barriga.

Tenho 1,78 de altura e um barrigão que ocupa uma circunferência de aproximadamente 50 centímetros (sem incluir os pneus modelito bóia de caminhoneiro). Sabe lá o que é isso em termos de volume?  A sorte é que o barrigão só avança uns 20 centímetros além do peito. Mesmo assim, atrapalharia a abordagem. Eu me sentiria um basculante de 45 toneladas entrando no Drive Thru do MacDonalds.  

É certo que o barrigão poderia servir como mesa auxiliar, já que tem área para apoiar precariamente uma bandejinha para instrumentos. Mas teria que contar com a colaboração do paciente. “Se você bater na bandeja barriga eu furo a sua bochecha”. Não, não, não daria certo. Aliás, eu não daria certo como CD.

Não teria paciência. “Abra a boca e fique quieto!”. “Pare de gemer! Um homão desse tamanho chorando feito criança!”. “A senhora não está segurando no braço da cadeira; por favor, pare de apertar”. Eu, hein? E teria noites terríveis por causa das dores nas costas, ouvindo a namorada falar: “Também, trabalhando nessa posição (de braços cruzados e batendo o pezinho, enfurecida).

Da mesma forma, não teria jeito para ficar falando com o paciente enquanto trabalhasse. Primeiro, porque é uma grande maldade perguntar as coisas para um cara que está com a boca cheia de cacarecos, se controlando para não tossir e salivando feito cachorro São Bernardo no calor. Depois, porque não consigo falar enquanto me concentro.

Talvez por isso não tenha escolhido o jornalismo radiofônico como profissão. Ficaria com a boca colada no microfone feito cantor assustado em show de calouros. Ou fala ou mexe as mãos. Não serviria como cantor, também. Um dia eu conto minhas experiências infrutíferas como canarinho em um conjunto que tocava em bailes (as danceterias eram raras naquela época).

Por isso, gostaria de parabenizar os meus amigos CDs. Vocês são uns atletas. Merecem o ouro olímpico, pela paciência, pela eficácia e, principalmente, pela posição ingrata em que trabalham.

Noooossa, como eu fui puxa-saco nesta crônica!


*Maurício Cintrão - jornalista e cronista e escreve semanalmente para o Jornal do Site Odonto
E-mail:
cintrao@uol.com.br


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