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AnoVII - Nº 96 - Março de 2005

 

Especial Mulher

Mulheres, meninas
Maurício Cintrão    

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A natureza trouxe a novidade sem aviso, como tudo o que é natural. Delicada mas imprescritível, feminina antes de mais nada. Minha filha do meio, a Mônica, deixou de ser menina. Tornou-se fértil. Ficou moça. Vai virar mulher.

A um pai não restam muitas alternativas nesse momento. Sofre, finge ignorar ou se encanta. Incólume é que não passa. Fica impotente, como em toda situação comandada pela natureza feminina.

Somos assim desde meninos. Elas amadurecem mais cedo. Elas aprendem a escolher muito antes de nós. E são colhidas pelo aprendizado biológico antes mesmo que compreendamos a dinâmica natural dos instintos. 

Aliás, alguns de nós até hoje não sabem o que é isso.

Fiquei emocionado e tive medo. Fiquei feliz e fiquei triste. Experimentei de uma só vez muitos sentimentos conflitantes. E enquanto escrevo, não sei direito como lidar com tudo isso.

Na hora não deixei de marcar aquele momento com uma homenagem. Dei à minha filha um pequeno bichinho de brinquedo. Um presente de menina para a mulher que desabrochava. Um brinde de despedida à criança que não mais voltará a ser. Um símbolo de minha esperança de que nunca perca a singeleza.

Agora é a vida. Virão o amor, a dor e muitas outras descobertas. Virá o tempo e, com ele, o magnífico olhar que diferencia. E na esteira dos anos a definição profissional, os desejos inconfessáveis, os tropeços, as arrelias e os desenganos irreversíveis.

Um parceiro virá e virará o mundo de ponta-cabeça. E a seu lado será engenheiro e operário, amigo e confidente para que, juntos, reconstruam o mundo muitas vezes. Movida pelo intangível e inescrutável universo feminino, será mãe um dia, reproduzindo a deliciosa sinfonia de multiplicação de sonhos.

E como a mãe que hoje cuida dos seus irmãos, oferecerá a mão que afaga, estapeia e ampara. Será a referência que assegura e o colo que embala.

Ficará cheia de dúvidas, dilemas e dívidas. Será mulher, ora bolas!

Talvez eu já nem esteja aqui, mas me emociono em imaginar minha filha com o sorriso enrugado, a postura cansada e a sensação de dever cumprido. E quem sabe outro bichinho de brinquedo esteja chegando às mãos de mais uma menina que, espantada, também sorrirá meio sem jeito, sem entender o motivo de um presente tão infantil em uma hora dessas.

Tomara que então ela entenda. Os pais, como todos os homens, são assim mesmo, meninos, imaturos. Frágeis diante das novidades trazidas pela feminina natureza.


*Maurício Cintrão - jornalista e cronista e escreve semanalmente para o Jornal do Site Odonto
E-mail:
cintrao@uol.com.br


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