A
influência do esporte na prevenção do
consumo nocivo de álcool por jovens
Por Arthur Guerra de Andrade*
Os
benefícios da prática esportiva para a saúde dos jovens são amplamente
conhecidos. Nos aspectos físicos e motor, a atividade física melhora a
condição cardiovascular dos praticantes, além de aprimorar a força, a
agilidade, a coordenação motora e o equilíbrio. O esporte também é um
importante instrumento para a inserção social. É capaz de interferir
positivamente no desenvolvimento individual e gerar transformações na forma
de agir e de pensar, contribuindo para o estabelecimento de relacionamentos
sociais plenos.
Estudo recém-publicado na conceituada revista científica Addiction traz uma
nova vertente sobre a prática esportiva: a participação de jovens em
atividades esportivas pode influenciar o consumo nocivo de bebidas
alcoólicas na vida adulta, tanto de forma positiva como negativa, dependendo
de fatores como a rede social do adolescente, a segregação por idade e o
tipo de esporte praticado.
Pesquisadores noruegueses estudaram por 13 anos como a prática de esportes
durante a adolescência pode predizer o uso de álcool na fase adulta. Mais de
3 mil estudantes noruegueses com idades entre 13 e 19 anos foram avaliados e
acompanhados após 2, 7 e 13 anos.
Durante o período da pesquisa, os estudiosos analisaram como o uso de álcool
variava conforme o tipo de esporte praticado (coletivo ou individual),
habilidades necessárias à sua execução (resistência, força ou técnica) e
nível de competição.
No
início do estudo, 50,7% dos jovens estavam envolvidos com prática esportiva.
Aqueles que não participavam de atividades esportivas apresentaram maior
frequência de episódios de embriaguez, relação que se inverteu nos últimos
dois períodos de avaliação.
Em
relação às habilidades necessárias à execução da prática esportiva, o estudo
indicou que aqueles que praticavam esportes de resistência, como corrida ou
natação, envolveram-se menos com o uso de álcool quando comparados com
praticantes de esportes de força e que exigem técnica, como musculação,
boxe, ginástica ou artes marciais.
Uma
das explicações para essa constatação é o fato das consequências do consumo
de álcool interferirem diretamente na capacidade física dos estudantes
praticantes de esportes de resistência. No organismo de um atleta, o álcool
provoca desidratação, diminuição do desempenho aeróbico (falta de ar),
aumento de lesões, perda da capacidade psicomotora e falhas no cálculo
ótico-motor.
Outro
resultado diz respeito ao tipo de esporte praticado. De acordo com a
pesquisa, estudantes praticantes de esportes coletivos apresentaram maior
crescimento no uso de álcool durante a adolescência e a vida adulta,
provavelmente devido à influência social desse tipo de esporte na vida do
estudante, facilitando a aquisição de álcool e as oportunidades de consumo.
Os
resultados desse estudo apontam para diferenças importantes entre a prática
de esportes e sua possível influência no uso de álcool por adolescentes, o
que pode permanecer inclusive ao longo da vida dos indivíduos.
A
participação de adolescentes em atividades esportivas, em particular aquelas
envolvendo times, pode aumentar o crescimento do uso de álcool durante a
adolescência tardia e o início da fase adulta, provavelmente devido à
influência social desse tipo de esporte na vida do estudante, o que pode
facilitar a aquisição de bebidas e as oportunidades para o consumo de
álcool. Por outro lado, a prática de esportes de resistência mostrou uma
menor associação com o uso de álcool na vida adulta, o que pode ser
explicado em parte pelo maior efeito ocasionado pelo consumo de álcool (como
a ressaca, por exemplo) na capacidade física e nos resultados dos
praticantes desse tipo de esporte.
Dessa
maneira, temos que levar em conta que a prática esportiva é capaz de atuar
positivamente na prevenção do uso abusivo de álcool, no entanto, além das
características individuais do sujeito, devem ser consideradas as
características do esporte que podem, ou não, interferir sobre esse tipo de
consumo, como apontado pelo estudo citado.
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PubE151 01032010 |
* Arthur Guerra de Andrade é presidente do CISA – Centro de Informação Sobre
Saúde e Álcool, professor da Universidade de São Paulo (USP), psiquiatra e
especialista em dependência química |