A tristeza é uma das cinco emoções naturais aos seres humanos e se
manifesta normalmente diante de situações que envolvem
principalmente perda, desamparo, frustração/desapontamento, fracasso
e/ou exclusão/rejeição. Por outro lado, a depressão tem
características neuroquímicas importantes e não depende de um evento
gatilho para se manifestar. Frequente em vários países, de 3% a 11%
da população em geral pode apresentar esse transtorno anualmente.
Infelizmente, muitas pessoas não buscam tratamento para depressão
por confundi-la com uma tristeza profunda. A causa da depressão é
tida como multifatorial, isto é: converge vários fatores como o
estilo de vida, o tipo de personalidade, a história pessoal e a
predisposição genética. Não há um momento único ou específico em que
a depressão comece. Muitas pessoas apresentam sintomas depressivos
na infância ou na adolescência. Tenho pacientes que após uma
sequencia de eventos traumáticos na idade adulta manifestaram a
depressão. Esta síndrome tem sido cada vez mais frequente em nossa
sociedade. As pessoas precisam entender que depressão é uma doença
que requer tratamento especializado. Vale lembrar que a depressão é
a segunda causa de incapacidade no trabalho - a projeção é que, até
2020, seja a primeira da lista – e, ainda sim, apenas 10% das
pessoas deprimidas recebem tratamento adequado.
São vários os tipos e subtipos de depressão. E o diagnóstico dos
estados depressivos deve considerar se os sintomas são primários ou
secundários a traumas psicológicos, doenças, uso de drogas e
medicamentos. Fatores hormonais (como o funcionamento precário da
tireóide ou desbalanceamento de outros hormônios) são variáveis que
também devem ser consideradas para que não aconteça um falso
diagnóstico. No diagnóstico da depressão são considerados os
sintomas psíquicos (tristeza, angústia, autodesvalorização, culpa,
diminuição da capacidade de experimentar prazer nas atividades antes
consideradas agradáveis, sensação de perda de energia, dificuldade
de se concentrar ou de tomar decisões), fisiológicos (alterações do
sono, alterações do apetite, redução do interesse sexual) e
evidências comportamentais (retraimento/isolamento social, crises de
choro, ideações/comportamentos suicidas, lentificação ou agitação
motora expressivas).
As pessoas com depressão precisam ser acompanhadas regularmente por
profissionais especializados (psiquiatras e psicólogos). Um episódio
depressivo pode durar em média 20 semanas e a psicoterapia pode ser
um dos caminhos para o tratamento; já que falar sobre as ocorrências
que originaram a tristeza ameniza gradativamente a expressão
emocional desregulada. À medida que o indivíduo verbaliza suas
angústias ao psicólogo, ele passa a ouvir a si mesmo de uma maneira
diferenciada e a organização mental se configura.
O paciente pode ser considerado em depressão quando apresenta cinco
ou mais dos seguintes sintomas por duas semanas (todos os dias ou
quase todos os dias):
• Interesse ou prazer acentuadamente reduzidos
• Humor deprimido (tristeza)
• Perda ou ganho significativo de peso (apetite) sem estar em dieta
• Insônia ou hipersonia
• Agitação ou retardo psicomotor
• Fadiga ou perda de energia
• Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva
• Capacidade reduzida de pensar ou concentrar-se
• Pensamentos recorrentes de morte, ideação suicida
No Brasil, segundo dados da Divisão de Saúde Mental da Organização
Mundial da Saúde (OMS)), a prevalência da depressão na população é
de 18%.
*Julio Peres - Psicólogo clínico e Doutor em Neurociências e
Comportamento pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo. Fez Pós-doutorado no Center for Spirituality and the Mind,
University of Pennsylvania e na Radiologia Clínica - Diagnóstico de
Imagem pela Unifesp. Autor de estudos que investigaram os efeitos
neurobiológicos da psicoterapia através da neuroimagem funcional (Psychological
Medicine 2007 e Journal of Psychiatric Research 2011).
www.julioperes.com.br
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