Ano XIX nº 223 -
 
 

Artigo - Maria Lucia Zarvos Varellis

Edição 223 - 10/05/2016

 

O impacto da microcefalia na saúde bucal

A microcefalia é uma condição neurológica em que o cérebro é subdesenvolvido em razão de as moleiras ou fontanelas (espaços abertos entre os ossos que irão permitir que o crescimento do cérebro ocorra sem haver compressão das estruturas) fecharem com prematuridade, resultando em uma cabeça menor que as de outras crianças da mesma idade e sexo.

Ela pode ser causada por uma série de fatores genéticos ou ambientais, e as crianças com microcefalia têm problemas de desenvolvimento. Embora não haja a cura definitiva para a microcefalia, constata-se que os tratamentos realizados desde os primeiros anos melhoram o desenvolvimento com qualidade de vida.

Foram consolidadas importantes evidências que corroboram para o reconhecimento da relação entre a presença do vírus Zika e a ocorrência de microcefalia no País.

Por outro lado reconhecemos que há várias interações que ocorrem no ecossistema, entre elas a seleção natural e a intervenção do homem, por isso é importante retomarmos historicamente o surgimento dessas doenças no cenário do nosso País.

Segundo Lincoln Suesdek, do Instituo Butantã, existem 3.600 espécies de mosquitos no mundo e esses existem há cerca de 170 milhões de anos, enquanto que o homem existe há 200 milhões. Esses mosquitos transmitem as arboviroses e, atualmente, 3,9 bilhões de pessoas estão ameaçadas por elas.

O Aedes Aegypti tem origem na África e a fêmea, que suga o sangue para se reproduzir, pode transmitir as arboviroses, transmissão essa cujos aspectos biológicos ainda não são totalmente conhecidos.

Profa. Maria Lucia
Zarvos Varellis

A profa. Maria Lucia Zarvos Varellis é cirurgiã-dentista (USP) e especialista em Odontologia para Pacientes com Necessidades Especiais. Foi membro da Comissão Nacional de Residência Multiprofissional em Saúde do Ministério da Saúde (2010 – 2011) e consultora da Organização Pan-Americana de Saúde (2010 – 2011). É autora do livro Odontologia para Pacientes com Necessidades Manual Prático - Editora Santos, colaboradora do Protocolo de Especialidades em Saúde Bucal do Ministério da Saúde para Atenção Básica, 2008, coordenadora do Fórum dos Conselhos Fim Saúde do Estado de São Paulo, membro do Grupo de Trabalho Interprofissional da Saúde - Secretaria de Estado da Saúde desde 2014 e presidente da Comissão de Registros de Técnicos de Saúde Bucal e Auxiliares de Saúde Bucal do Conselho Federal de Odontologia.

 

Descobertas científicas apontam para o fato de que as ilhas de calor, locais de temperaturas mais quentes, têm maior índice de pessoas contaminadas. O Porto de Santos possivelmente tenha sido a porta de entrada dos mosquitos que vieram do Exterior. Durante o inverno, há uma grande variabilidade genética do mosquito, cuja evolução é muito rápida, ocorrendo em poucos meses.

Sua picada pode ocorrer a qualquer hora do dia e apenas a fêmea suga o sangue, sendo que a capacidade de transmissibilidade da mesma não é recente. Ainda, esses mosquitos estão presentes em todos os lugares, embora nem todos estejam infectados, e podem se reproduzir em qualquer coleção hídrica. É indicado o uso de repelentes comerciais, uma vez que o efeito já foi comprovado, mas devem ser evitados apenas por pessoas alérgicas e bebês.

Um mesmo mosquito pode transmitir Zica, Chikungunya e Dengue.

O Aedes Aegypti foi isolado pela primeira vez em Uganda no ano de 1947 e o mesmo não produzia doença. Após a II Guerra Mundial, com o aumento da circulação de pessoas e mercadorias, o mosquito migrou. Na Polinésia Francesa há uma densidade demográfica muito alta e lá houve um aumento na incidência da Síndrome de Guillan Barret; só depois de algum tempo é que se atentou para a microcefalia.

A dengue nas Américas tem como reservatório apenas o ser humano. Setenta por cento das pessoas infectadas não desenvolvem a doença, segundo Ricardo Palácio Gomes, também do Instituto Butantã, mas podem transmiti-la.

A pessoa pode contrair a doença por quatro vezes. Na primeira, a infecção não costuma ser grave. A segunda infecção é grave e seu período mais sintomático é após a remissão da febre. A resposta viral da primeira ajuda o vírus a se replicar mais vezes. A terceira e a quarta infecção costumam ser formas da doença mais leves e imperceptíveis.

A dengue do tipo 2 costuma ter quadros mais graves e a imunização para a doença tem sido tentada há 70 anos. A eficácia da vacina é muito importante porque, se a imunização não for total, a infecção nessas pessoas pode se tornar mais grave.

Para o cirurgião-dentista, é muito importante que no primeiro contato com os acompanhantes de pacientes com microcefalia sejam observadas as habilidades e características específicas, tais como humor, comportamento, linguagem, contato e interação. Esses dados são de extremo interesse no momento do atendimento odontológico. A criança com microcefalia, dependendo do seu diagnóstico e dos distúrbios associados, pode apresentar dificuldades no processo de aquisição de habilidades gerais do seu desenvolvimento. Nesse sentido, a melhoria na qualidade de vida pode ser citada como a principal meta da equipe de reabilitação e de saúde bucal responsável pelo tratamento.

Abordagem adequada, estabilização do paciente na cadeira odontológica, necessidade de sedação e atendimento hospitalar são situações que devem ser levadas em conta para estabelecer o plano de tratamentos desses pacientes, sempre precedidos de uma anamnese completa, da dinâmica familiar e do vínculo de confiança estabelecido entre os atores envolvidos.

Alguns dos principais achados bucais costumam ser doença periodontal, cárie, má oclusão, micrognatia, atraso na erupção dentária, disfagia, bruxismo e traumatismo bucal.

O acolhimento e a humanização das relações, somadas à prática colaborativa interprofissional, são ferramentas que devem ser agregadas ao processo de promoção de saúde desses indivíduos. Esses devem ter seu acesso ao tratamento odontológico garantido pelas Redes de Saúde de Referência e Contra Referência, públicas e privadas, que irão assegurar a promoção de saúde integral e segura.

Se cada um fizer a sua parte, o mundo vai agradecer!

 

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Leia também da autora (clique no título)

Inclusão da pessoa com necessidades especiais:
VOCÊ TEM FEITO A SUA PARTE?

 

 

3º Setor | Anuncie | Arquivo JSO | Bastidores | Estatística | Expediente | Legislação | Fale com o JSO | Mural/Cartas | Utilidade Pública

Copyright @ 1999 Edita Comunicação Integrada. Todos os direitos reservados.
Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem prévia autorização por escrito.
Melhor visualização 1024x768pixels