CASH
Edição 150 - 01/02/2010
Especialistas sugerem
“troca de dívida” para sair do vermelho
O começo do ano é hora de
organizar as finanças. Além de janeiro ser um bom mês para fazer mudanças
nos gastos, muitas pessoas acabam se endividando no período, afundadas em
despesas como o IPVA, material escolar e o reajuste das mensalidades.
Especialistas dão algumas dicas para sair do vermelho e começar 2010
poupando.
Para começar, é preciso quitar
as dívidas pendentes e evitar que os débitos cresçam com os juros do cheque
especial, que é um dos mais altos entre os cobrados pelos bancos. Assim, os
especialistas afirmam que é melhor pegar um empréstimo com juros menores,
como o consignado, por exemplo, do que deixar a dívida aumentar no cheque
especial ou no rotativo do cartão de crédito.
"O primeiro aspecto é saber
quanto você tem de dívida e quanto paga de juros. Se está no cheque
especial, isso acaba tirando sua capacidade de saldá-la. Então, nesse caso,
é melhor trocar juros mais caros por juros baratos, como o consignado [com
taxas de cerca de 2% ao mês], e pagar a dívida cara", afirmou à Folha de São
Paulo Mauro Calil, professor e educador financeiro. Ele ressaltou, porém,
que é preciso arcar com as parcelas do empréstimo.
Para se ter uma ideia, uma
dívida de R$ 1.000 no cheque especial, pagando juros de 7,27% ao mês – taxa
média, de acordo com pesquisa da Anefac em dezembro –, passa a valer R$
1.523 após seis meses. A mesma dívida, financiada pelos juros do empréstimo
pessoal de um banco (com juros médios em 4,82% ao mês) em seis meses,
ficaria em R$ 1.326, quase R$ 200 a menos. Os juros para o parcelamento de
faturas no cartão de crédito são ainda maiores, chegando a 10,68% ao mês
(dívida de R$ 1.838 após seis meses). "Parcelar o cartão de crédito é uma
péssima ideia, os juros do rotativo são muito caros, em seis meses a dívida
quase dobra de tamanho", disse Miguel José Ribeiro de Oliveira,
vice-presidente da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças,
Administração e Contabilidade).
"Colchão financeiro"
– Pagas as dívidas, o próximo passo é se organizar para pagar as parcelas do
empréstimo, evitar contrair novas dívidas e economizar para montar um
"colchão financeiro". E para arrumar a vida financeira, todos os
especialistas dão o mesmo conselho: colocar os gastos e receitas na ponta do
lápis.
"A primeira coisa é elaborar seu
orçamento doméstico, confrontar receitas e despesas. Rever tudo e ver onde
cortar", afirmou Oliveira. "Na planilha, a pessoa vai colocar o que ela tem
a gastar, como água, luz, aluguel, prestação do carro, mensalidade. Aí é
hora de ver as receitas. A diferença entre elas é o que será poupado. Se der
negativo, ou ela dá um jeito de ganhar mais ou de gastar menos", completou o
professor de Finanças da USP (Universidade de São Paulo), Keyler Rocha.
O ideal, segundo eles, é
economizar pelo menos 10% de suas receitas todos os meses. Assim, é possível
ter sempre alguma reserva para despesas eventuais ou emergências, como
problemas de saúde ou um carro quebrado, por exemplo.
Montando o orçamento doméstico,
seja em um caderninho ou no computador, fica mais fácil saber quais os
gastos que podem ser cortados ou reduzidos, como a conta de celular acima da
média, ou compras demais no cartão de crédito. "Cartão de crédito é uma
ótima ideia, desde que bem utilizado. Tenha um ou no máximo dois. Esse
cartão deve te dar algum tipo de benefício, como carro, viagens, etc.. E a
soma dos limites dos cartões tem que ser de, no máximo, 50% do seu salário
líquido", afirmou Mauro Calil.
Aspectos emocionais
– Outro fator que pode atrapalhar um orçamento equilibrado são as chamadas
"compras emocionais". "Aspectos emocionais atrapalham muito o orçamento,
então a pessoa precisa ter uma certa educação financeira. Se ela não
conseguir se controlar, é melhor não ter cartão de crédito, nem cheque [na
carteira]", afirmou Keyler Rocha, da USP. De acordo com ele, quem acha que
não consegue se controlar para não gastar o que não precisa, deve deixar os
cartões e talões de cheque em casa. "Assim, durante o tempo em que ela terá
de voltar em casa para pegar, pensará melhor sobre a compra", disse.
Confira as dicas dos
especialistas para economizar e evitar dívidas:
- Faça uma planilha com todos os
seus gastos e receitas no mês. Assim é possível ver quais as despesas que
podem e/ou precisam ser cortadas e conferir se a conta está fechando
positiva no fim do mês.
- O ideal é que, ao final do
mês, sobre pelo menos 10% do seu salário líquido para suas reservas
pessoais.
- O educador financeiro Mauro
Calil recomenda que o chamado "colchão financeiro" tenha ao menos 12 meses
de seus gastos garantidos. Assim, em caso de demissão, por exemplo, você
terá tranquilidade maior para se restabelecer.
- Parcelar a fatura do cartão de
crédito ou pagar a dívida e entrar no cheque especial não são boas ideias.
Os juros dessas modalidades são muito altos e podem fazer sua dívida dobrar
em pouco tempo.
- Para pagar as dívidas e
recuperar o equilíbrio financeiro, prefira modalidades de crédito com juros
mais baratos, como o consignado, cujas parcelas são descontadas diretamente
da folha de pagamento, ou o empréstimo pessoal.
- Tenha no máximo dois cartões
de crédito, e controle seus limites de modo que a soma dos saldos máximos
dos dois plásticos seja igual à metade do seu salário. Para simplificar: se
você ganha R$ 2 mil por mês, o limite dos seus cartões de crédito, somados,
deve ser igual a R$ 1 mil.
- Algum sacrifício é importante
para o equilíbrio orçamentário. Pense antes de consumir o que pode ser
postergado ou deixado de lado.
Fonte: Folha de S. Paulo
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