Vinhos
Por
Armando Stelluto Jr.
Vinho –
Saúde!
O
vinho no Brasil
(parte
1 – O começo)
Colonos Caxienses (RS) |
A
origem da produção vinícola do Brasil é variada, quase toda européia,
mais italiana. A história política e agrícola revela caminhos por onde
no passado as tentativas correram soltas. Umas bem-sucedidas, outras
nem tanto. O mundo vitícola na terra do pagode começou a engatinhar
três décadas após seu descobrimento e só foi pegar mesmo 350 anos
depois, com a chegada dos imigrantes. Atualmente, certos vinhos
brasileiros têm boa qualidade, com forte destaque para os espumantes.
E não fazem feio em alguns mercados internacionais importantes, como o
americano e o francês, para onde são exportadas poucas marcas em
quantidades consideradas razoáveis por seus produtores.
A uva
entrou no País primeiro por São Paulo e em seguida pela região Sul na
bagagem de colonizadores portugueses. Eles bem que tentaram, mas quem
acertou a mão mesmo foi o padre paraguaio Roque Gonzáles, ao plantar
com sucesso mudas européias no Noroeste gaúcho. Dois séculos mais
tarde, lá por 1880 começava de fato a produção do vinho brasileiro.
Encher
as burras
e beber o vinho.
Mas
que vinho?
Quando
a expedição portuguesa de Martin Afonso de Souza e a turma de seu
patrício Brás Cubas pisaram por aqui, em 1532, havia duas grandes
preocupações na cabeça dos exploradores: encher as burras e fazer a
festa nas terras indígenas. Tudo isso de preferência regado a vinho.
Mas como, se a bebida lusitana aqui chegava em pior estado do que um
vinagre de quinta categoria, devido às más condições da travessia
atlântica? Para ambos, a solução era óbvia: plantar as vinhas e fazer
o vinho. Um pequeno porém desandou a lagarada, porque o terroir do
bairro de Tatuapé, na capital paulista, e os quintais de Santos, no
litoral de São Paulo, onde foram colocadas as primeiras mudas, era
impróprio para a cultura das vinhas.
Padre
trucidado deu
a largada. E depois
virou
santo
Quase
um século mais tarde, por volta de 1620, o padre paraguaio Roque
Gonzáles preparou o terreno do que seriam um dia os maiores parreirais
do Brasil, no noroeste gaúcho, junto do Rio Uruguai. Ali, onde ele e
seu colega João de Castilho fundaram a Redução de Assunção do Ijuí
(hoje um município de 7 mil habitantes com o nome do primeiro), Roque
iniciou uma plantação de videiras européias para a produção de vinho
que – dizem – seria utilizado canonicamente, juraram os padres na
época. A disseminação da viticultura não avançou imediatamente, só
acontecendo bem mais tarde, em 1742, pelas mãos de portugueses de
Açores e da Ilha da Madeira. O esforço de Roque Gonzáles tornou-se, no
entanto, um marco para o vinho no Brasil, e também uma página bárbara
de sua história. Os indígenas, que sua missão tentava catequizar na
região dos Sete Povos das Missões, não gostaram nada da idéia de uma
concorrência com os seus deuses por lá e trataram de eliminá-la pela
raiz de uma forma literalmente selvagem. Roque foi trucidado e seu
colega de fé imolado, junto com outro padre, Afonso Rodrigues, numa
investida sangrenta dos aborígenes armados de porretes e machados. Em
1988, os três foram santificados pelo Papa João Paulo II.
Italianos chegaram
com
tudo e puseram
a mão
na massa
As
famílias de imigrantes açorianos e madeirenses tocaram a lavrar a
terra para as vinhas, que em 1813 foram reconhecidas por D. João VI,
primeiro príncipe regente de Portugal e depois rei de Portugal, Brasil
e Algarves. Em 1840, Thomas Master plantou na ilha gaúcha dos
Marinheiros uma boa variedade da uva Isabel (a vitis labrusca, uma
espécie rústica, própria para vinhos simples), que agüentou bem o
tranco e se espalhou, inclusive nas colônias alemãs, onde também
recebeu um certo impulso.
Mas
foram os italianos que finalmente conseguiram dar a arrancada final
para a produção de vinho no Brasil, ali mesmo no Rio Grande do Sul, a
partir de 1875. A vinicultura gaúcha deslanchou quando as bagagens dos
imigrantes do Vêneto foram abertas e delas saltaram cepas de uvas do
norte da Itália. Os novos colonos eram raçudos, dedicados e tinham
visão empreendedora. Eles trouxeram também o hábito alimentar de
consumo do vinho, que foi determinante para o sucesso da nova cultura.
Mas, antes do sucesso, estes também sofreram um bocado até encontrarem
uma região generosa que fizesse as pazes definitivas com a Isabel. Foi
no Vale dos Sinos, na região metropolitana de Porto Alegre. Nesse
lugar, o cultivar deu em sucesso. Daí para frente, foi uma festa
italiana só.
Atualmente, 90% da produção de vinhos no Brasil concentra-se no Rio
Grande do Sul. O restante é de Santa Catarina, Paraná, São Paulo,
Minas Gerais e Pernambuco.
(Na
próxima edição, a consolidação da vitivinicultura brasileira)
Champanhe “nasceu” de um acidente da natureza
|
Há 344
anos, o monge francês beneditino Dom Pérignon (1638 a 1715) cuidava
calmamente da adega de uma abadia na região francesa de Champagne, na
diocese de Reims, quando, sem querer, inventou o processo que resulta
no vinho champanhe como o conhecemos hoje. Foi um acidente. Pérignon
ouviu dizer que alguns vinhos estouravam a garrafa “sem mais, nem
menos” e resolveu investigar, quando descobriu que eles continuavam a
fermentar mesmo depois de engarrafados. Como a fermentação libera gás
carbônico, sua pressão explodia as garrafas. Pérignon, então, partiu
para uma segunda fermentação usando garrafas mais resistentes e rolhas
amarradas com arame. Assim, mantinha o processo natural sem riscos.
Depois, controlou o assemblage (mistura de vários tipos de vinhos),
os açúcares e os fermentos, obtendo uma efervescência equilibrada, o
que tornou o vinho mais agradável, mesmo com a intensidade de suas
borbulhas. Ficou famosa a expressão “estou bebendo estrelas”, feita
por Dom Pérignon ao provar e aprovar sua “criação”.
Da
viúva célebre à
denominação exclusiva
Uma
francesa também ficou muito conhecida com o champanhe. Foi a senhora
Nicole-Barbe Ponsardin Clicquot (1777 a 1866), que aprimorou a bebida,
retirando dela os resíduos que se formavam dentro da garrafa durante a
segunda fermentação. Na verdade, ela se tornou uma celebridade no
mundo dos vinhos após a morte de seu marido, Filipe Clicquot,
assumindo a vinícola da família e tornando-se assim a Veuve Clicquot,
uma revolucionária empresária que transformou sua casa de champanhe,
projetando-a internacionalmente.
O
champanhe pode ser produzido de duas maneiras. Pelo método camponês (Champenoise),
no qual a segunda fermentação ocorre dentro da garrafa, e pelo Método
Charmat, que leva o nome do engenheiro criador da técnica da segunda
fermentação em escala industrial, em autoclaves.
O
verdadeiro vinho champanhe é produzido somente na região de Champagne,
na França, por ser um produto originário de área controlada. Nenhum
outro espumante pode ser chamado assim em qualquer país do mundo,
inclusive na França. Alguns champanhes ou espumantes contêm até 30
tipos de uvas diferentes na mesma composição, como a Chardonnay,
Riesling, Pinotage e outras.
No
Brasil, a produção de espumantes cresceu 11% entre 1998 e 2007,
segundo dados da União Brasileira de Vitivinicultores publicados por
Aguinaldo Záckia Albert no livro “Borbulhas – tudo sobre champanhe e
espumantes”, da Editora Senac São Paulo.
Com
Embrapa, Dal Pizzol, A Relíquia e Academia do Vinho
Sangue
de Cristo, o vinho na Eucaristia
A
produção de vinho e a Igreja Católica têm tudo a ver. Na Idade Média,
um tipo exclusivo, com mais álcool, passou a ser feito com
exclusividade para as missas. É o chamado vinho canônico, até hoje
consumido pelos padres em reduzidos goles, durante a Eucaristia
(cerimônia da liturgia católica em que corpo e sangue de Cristo são
representados por pão e vinho). Esse vinho todo especial consta do
Código de Direito Canônico, que regulamenta a bebida feita
exclusivamente de uvas e sem misturas, além de forte conteúdo
alcoólico, entre 13 e 18%. Seu consumo sem álcool tem exceções, mas só
em condições especiais.
O
Evangelho de Lucas conta que na última ceia Jesus ofereceu uma taça de
vinho aos seus discípulos, como escreveu a jornalista Juliana
Fontanella, do Paraná. Depois, disse: “Tomai este cálice e distribuí-o
entre vós. Pois vos digo: já não tornarei a beber do fruto da videira,
até que venha o Reino de Deus”. Em seguida, fez o mesmo com o pão,
dizendo que este representava parte de seu corpo. No fim da ceia, o
vinho da missa foi sacramentado, quando Cristo disse: “Este cálice é a
nova aliança em meu sangue, que é derramado por vós”.
Com
Diário do Norte do Paraná
Micro-sensor fará controle de água da videira
Uma
nova tecnologia para a medição dos níveis de água poderá interferir
favoravelmente na qualidade dos vinhos. Um micro-sensor foi
desenvolvido por Alan Lakso, professor do Departamento de Ciências e
Horticultura na Estação Experimental de Horticultura de Genebra,
Suíça. O equipamento é colocado no tronco da videira e nos vinhedos,
para controlar o fluxo de água nas plantas e no solo onde são
cultivadas. Para alguns especialistas, o equipamento será importante
para a qualidade dos vinhos, uma vez que a volume de água das videiras
tem efeito direto sobre as uvas.
O
micro-sensor fará as medições diretamente nas plantas e nos vinhedos e
transmitirá os dados por meio de uma rede wireless, sendo
disponibilizado inclusive à distância pela Internet.
Com
Revista Adega
Vinho
de maçã acompanha a história de Frankfurt
Para
enófilos mais severos, qualquer vinho que não seja de uva não é vinho
e pronto. Intransigências à parte, os alemães de Frankfurt têm boas
razões para se orgulharem do seu vinho de maçã. A fundação e o
desenvolvimento desta cidade de negócios têm muito de história e
modernidade, que convivem bem e, obviamente, sob os brindes de um bom
vinho de... é, de maçã.
A
história local não dispõe de tanta informação sobre esta bebida tão
apreciada pelos alemães, famosos bebedores de cerveja, mas que também
produzem excelentes vinhos brancos. Há 1200 anos, no império de Carlos
Magno, o vinho de maçã era uma das bebidas preferidas da população
local.
O
“apfelwein” é um primo da nossa sidra brasileira, tem 5,5% de
graduação alcoólica, sabor puxando para o azedo e produz no paladar
uma sensação refrescante. Acompanha, tradicionalmente, as salsichas
tipo Frankfurter com chucrute e outros pratos da culinária alemã.
Com
Expresso (Portugal)
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